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Tortura – Florbela Espanca

Tortura – Florbela Espanca

Tortura Florbela Espanca

Tirar dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!…

Sonhar um verso d´alto pensamento,
E puro como um ritmo d´oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!…

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!

Soneto: Tortura – Florbela Espanca